"O mais feroz dos animais domésticos é o relógio de parede: conheço um que já devorou três gerações da minha família" Mario Quintana.
sábado, 20 de setembro de 2014
sexta-feira, 6 de setembro de 2013
voltando...
Há tempos não acessava meu blog... relendo algumas coisas escritas há algum tempo, percebo com clareza o encanto da palavra que nos representa e nos esconde de forma louvável... tenho uma relação de amor incondicional pela palavra escrita, registrada, justamente pela multiplicidade de inferências que ela nos permite... estando escrita, publicada, e eventualmente sendo lida e interpretada cria muito mais ruídos do que se imagina, pelo menos é o que imagino!
Escrever é tangenciar sentimentos, sensações, impressões, crenças momentâneas que se perderiam; creio que escrevendo nos registramos, não nos perdemos completamente com a recorrência dos novos eus que naturalmente surgem sufocando outros que não deveriam ser esquecidos.....
Há poezia nas bobagens registradas, há sempre poesia na percepção de que não nos identificamos mais com defesas apaixonadas feitas há pouco, há poezia na imcompreensâo de algo escrito há anos, há poesia na imcompetência intelectual, quando registrada com verdade!
Preciso voltar a escrever!
sábado, 17 de novembro de 2012
COMER: É UMA FELICIDADE...
Passeando pela net, encontrei esse texto de Ruben Alves (apenas o grifo é meu). Selecionei apenas o que me interessa, como sempre, e aqui, me lembrei de pessoas com as quais amo comer!!!! Aliás, tenho um post sobre A Festa de Babete, um dos filmes mais deliciosos que já vi!
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"Meus pensamentos começam a teologar. Penso que Deus deve ter sido um artista brincalhão
para inventar coisas tão incríveis para se comer. Penso mais: que ele foi gracioso.
Deu-nos as coisas incompletas, cruas. Deixou-nos o prazer de inventar a culinária.
Comer é uma felicidade, se se tem fome. Todo mundo sabe disto. Até os ignorantes nenezinhos. Mas poucos são os que se dão conta de que felicidade maior que comer é cozinhar. Faz uns anos comecei a convidar alguns amigos para cozinharmos juntos, uma vez por semana. Eles chegavam lá pelas seis horas (acontecia na casa antiga onde hoje está o restaurante Dali). Cada noite um era o mestre cuca, escolhia o prato e dava as ordens. Os outros obedeciam alegremente. E aí começávamos a fazer as coisas comuns preliminares a cozinhar e comer: lavar, descascar, cortar — enquanto íamos ouvindo música, conversando, rindo, beliscando e bebericando. A comida ficava pronta lá pelas 11 da noite.
Ninguém tinha pressa. Não é por acaso que a palavra comer tenha sentido duplo. O prazer de comer, mesmo, não é muito demorado. Pode até ser muito rápido, como no McDonald's. O que é demorado são os prazeres preliminares, arrastados — quanto mais demora maior é a fome, maior a alegria no gozo final. Bom seria se cozinha e sala de comer fossem integradas — os arquitetos que cuidem disso — para que os que vão comer pudessem participar também dos prazeres do cozinhar. Sábios são os japoneses que descobriram um jeito de pôr a cozinha em cima da mesa onde se come, de modo que cozinhar e comer ficam sendo uma mesma coisa. Pois é precisamente isto que é o sukiyaki, que fica mais gostoso se se usa kimono de samurai.
Quem pensa que a comida só faz matar a fome está redondamente enganado. Comer é muito perigoso. Porque quem cozinha é parente próximo das bruxas e dos magos. Cozinhar é feitiçaria, alquimia. E comer é ser enfeitiçado. Sabia disso Babette, artista que conhecia os segredos de produzir alegria pela comida. Ela sabia que, depois de comer, as pessoas não permanecem as mesmas. Coisas mágicas acontecem. E desconfiavam disso os endurecidos moradores daquela aldeola, que tinham medo de comer do banquete que Babette lhes preparara. Achavam que ela era uma bruxa e que o banquete era um ritual de feitiçaria. No que eles estavam certos. Que era feitiçaria, era mesmo. Só que não do tipo que eles imaginavam. Achavam que Babette iria por suas almas a perder. Não iriam para o céu. De fato, a feitiçaria aconteceu: sopa de tartaruga, cailles au sarcophage, vinhos maravilhosos, o prazer amaciando os sentimentos e pensamentos, as durezas e rugas do corpo sendo alisadas pelo paladar, as máscaras caindo, os rostos endurecidos ficando bonitos pelo riso, in vino veritas... Está tudo no filme A Festa de Babette. Terminado o banquete, já na rua, eles se dão as mãos numa grande roda e cantam como crianças... Perceberam, de repente, que o céu não se encontra depois que se morre. Ele acontece em raros momentos de magia e encantamento, quando a máscara-armadura que cobre o nosso rosto cai e nos tornamos crianças de novo. Bom seria se a magia da Festa de Babette pudesse ser repetida..."
Comer é uma felicidade, se se tem fome. Todo mundo sabe disto. Até os ignorantes nenezinhos. Mas poucos são os que se dão conta de que felicidade maior que comer é cozinhar. Faz uns anos comecei a convidar alguns amigos para cozinharmos juntos, uma vez por semana. Eles chegavam lá pelas seis horas (acontecia na casa antiga onde hoje está o restaurante Dali). Cada noite um era o mestre cuca, escolhia o prato e dava as ordens. Os outros obedeciam alegremente. E aí começávamos a fazer as coisas comuns preliminares a cozinhar e comer: lavar, descascar, cortar — enquanto íamos ouvindo música, conversando, rindo, beliscando e bebericando. A comida ficava pronta lá pelas 11 da noite.
Ninguém tinha pressa. Não é por acaso que a palavra comer tenha sentido duplo. O prazer de comer, mesmo, não é muito demorado. Pode até ser muito rápido, como no McDonald's. O que é demorado são os prazeres preliminares, arrastados — quanto mais demora maior é a fome, maior a alegria no gozo final. Bom seria se cozinha e sala de comer fossem integradas — os arquitetos que cuidem disso — para que os que vão comer pudessem participar também dos prazeres do cozinhar. Sábios são os japoneses que descobriram um jeito de pôr a cozinha em cima da mesa onde se come, de modo que cozinhar e comer ficam sendo uma mesma coisa. Pois é precisamente isto que é o sukiyaki, que fica mais gostoso se se usa kimono de samurai.
Quem pensa que a comida só faz matar a fome está redondamente enganado. Comer é muito perigoso. Porque quem cozinha é parente próximo das bruxas e dos magos. Cozinhar é feitiçaria, alquimia. E comer é ser enfeitiçado. Sabia disso Babette, artista que conhecia os segredos de produzir alegria pela comida. Ela sabia que, depois de comer, as pessoas não permanecem as mesmas. Coisas mágicas acontecem. E desconfiavam disso os endurecidos moradores daquela aldeola, que tinham medo de comer do banquete que Babette lhes preparara. Achavam que ela era uma bruxa e que o banquete era um ritual de feitiçaria. No que eles estavam certos. Que era feitiçaria, era mesmo. Só que não do tipo que eles imaginavam. Achavam que Babette iria por suas almas a perder. Não iriam para o céu. De fato, a feitiçaria aconteceu: sopa de tartaruga, cailles au sarcophage, vinhos maravilhosos, o prazer amaciando os sentimentos e pensamentos, as durezas e rugas do corpo sendo alisadas pelo paladar, as máscaras caindo, os rostos endurecidos ficando bonitos pelo riso, in vino veritas... Está tudo no filme A Festa de Babette. Terminado o banquete, já na rua, eles se dão as mãos numa grande roda e cantam como crianças... Perceberam, de repente, que o céu não se encontra depois que se morre. Ele acontece em raros momentos de magia e encantamento, quando a máscara-armadura que cobre o nosso rosto cai e nos tornamos crianças de novo. Bom seria se a magia da Festa de Babette pudesse ser repetida..."
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Angela R.
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
FILME: Bruna surfistinha....
Há tempo queria ver.... fiquei realmente muito tocada pelo filme! é constrangedor a forma como o diretor consegue nos despir de qualquer preconceito, pois o que prevalesce no filme é, muito mais a complexidade do ser humano que a simplicidade do sexo!! Adorei o filme, recomendo sem nenhuma restrição. A atuação da Débora Seco foi impecável e a trilha sonora é linda.
Angela R.
Angela R.
terça-feira, 4 de setembro de 2012
PAUSA PARA LEITURAS OBRIGATÓRIAS...
Lendo Sobre A Modernidade de Baudelaire....
O Império do Efêmero de Lipovestki...
O Espírito das roupas de Gilda de Melo e Souza...
Orientar trabalhos acadêmicos do curso de graduação em Moda, me obriga a ler muito mais! depois comento os livros com mais calma, mas alguma coisa já pode ser dita:
Com Baudelaire tem-se uma idéia interessante da dualidade eterno e contingente na obra de arte...
Em o Império do Efêmero percebe-se o quanto a superficialidade ainda impera nas discussões referentes ao fenômeno Moda analisado apenas como símbolo de insígnia social.....já foi assim, ainda é, mas nào se reduz a isso!!
Gilda de Souza e Melo, faz um trabalho que beira a poesia! é lindo, informativo e sobretudo esclarecedor das interfaces da moda com a arte e com a sociologia por exemplo. Aliás a artista defende a tese - da qual nào compactuo - de que Moda é Arte!
Angela R.
O Império do Efêmero de Lipovestki...
O Espírito das roupas de Gilda de Melo e Souza...
Orientar trabalhos acadêmicos do curso de graduação em Moda, me obriga a ler muito mais! depois comento os livros com mais calma, mas alguma coisa já pode ser dita:
Com Baudelaire tem-se uma idéia interessante da dualidade eterno e contingente na obra de arte...
Em o Império do Efêmero percebe-se o quanto a superficialidade ainda impera nas discussões referentes ao fenômeno Moda analisado apenas como símbolo de insígnia social.....já foi assim, ainda é, mas nào se reduz a isso!!
Gilda de Souza e Melo, faz um trabalho que beira a poesia! é lindo, informativo e sobretudo esclarecedor das interfaces da moda com a arte e com a sociologia por exemplo. Aliás a artista defende a tese - da qual nào compactuo - de que Moda é Arte!
Angela R.
sábado, 25 de agosto de 2012
segunda-feira, 6 de agosto de 2012
INDICAÇAO DE LEITURA: KAFKA...
Li três contos de Franz Kafka (1883-1924) :A metamorfose, Um artista da fome e Carta ao Pai.
A quem recomendaria? Ãqueles que já estão suficientemente amadurecidos pelo tempo, ou, àqueles que já se sentem à vontade para ler os clássicos da literatura universal entendendo o porque dessa categorização. Penso que a leveza da juventude pode precarizar o peso kafkiano da mudança, da carência e da insubmissão!
O que me tocou mais profundamente em A metamorfose foi justamente o quanto a aceitação do outro é condição cine qua non para uma existência minimamente saudável, a indiferença metamorfoseia até a morte...... já em Um artista da Fome, Kafka se refere ao quanto o olhar do outro é necessário para a sobrevivência da alma e quiça do corpo, a existência não prescinde da alteridade... Cartas ao Pai é repleta de verdades cruas....
O surrealismo kafkiano não é fácil de ser digerido mas parece ter sido escrito agora! Eu recomendo!!
Angela R.
A quem recomendaria? Ãqueles que já estão suficientemente amadurecidos pelo tempo, ou, àqueles que já se sentem à vontade para ler os clássicos da literatura universal entendendo o porque dessa categorização. Penso que a leveza da juventude pode precarizar o peso kafkiano da mudança, da carência e da insubmissão!
O que me tocou mais profundamente em A metamorfose foi justamente o quanto a aceitação do outro é condição cine qua non para uma existência minimamente saudável, a indiferença metamorfoseia até a morte...... já em Um artista da Fome, Kafka se refere ao quanto o olhar do outro é necessário para a sobrevivência da alma e quiça do corpo, a existência não prescinde da alteridade... Cartas ao Pai é repleta de verdades cruas....
O surrealismo kafkiano não é fácil de ser digerido mas parece ter sido escrito agora! Eu recomendo!!
Angela R.
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