segunda-feira, 31 de maio de 2010

ARTE: Coleçao Nemirovskyi, olhando para os modernistas me senti arcaica...


A Coleçao Nemirovsky - iniciada na década de 1960 pelo casal José e Paulina Nemirovsky- conta com telas de Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Lasar Segal, Volpi e Portinari, para citar apenas alguns dos modernistas que a constitui. Emociona a proximidade com algumas das obras que revolucinaram a arte brasileira. Aliás, já disse em outros momentos que artistas e cientistas de maneira geral, merecem toda nossa reverência. Nosso débito com eles é impagável.
Pensar sobre as telas que vi, seria comprometer o prazer que senti ao ver... então, melhor me reportar à Fernado Pessoa: "PENSAR É ESTAR DOENTE DOS OLHOS"...

Angela R.

domingo, 30 de maio de 2010

CINEMA: CHLOE... O preço da traição



Estava muito a fim de ver esse filme por dois motivos: acho instigante quaisquer temáticas referentes à complexidade que é o comportamento humano e também porque gosto de tudo que a Julianne Moore faz, é uma das minhas preferidas.

O filme é de extremo bom gosto, é sensual ao extremo e o roteiro me prendeu na cadeira como poucos. Me fez pensar - e muito - no quanto somos estranhos quando muito vulneráveis e no quanto nossas suspeitas nos fragilizam.Isso em quaisquer situações e independentemente de gênero, me parece algo universal, na suspeita da perda podemos nos perder completamente.
Parcialidades à parte, o certo é que o título em português é uma tragédia. O preço da traição é um título que sugere uma abordagem maniqueísta, inclusive dos desejos e fragilidades humanas o que, a meu ver , pode contaminar drasticamente a interpretaçao do filme. Outro ponto que não poderia deixar passar, é que as vezes o diretor - no caso Atom Egoyan - exagera nas artimanhas quando nao quer que percebamos de imediato algo que só pode se desvelar ao término da trama.
Embora a homosexualidade seja uma das tônicas do filme, o diretor não recorre a clichês. A naturalidade com que a plástica do afeto é mostrada é, em quase todo o filme bastante sutil, o que o torna ainda mais sensual. Pena que a única cena mais "picante" das protagonistas se estende mais do que deveria e, talvez por isso, não convence.
Assim como o título, o final do filme poderia ser melhor... certamente foi o que inspirou seu título em português.
Apesar dessas ressalvas, gostei muito do filme e com certeza recomendo!!
Angela R.

sábado, 29 de maio de 2010

COMPORTAMENTO: filosofando com RADIOHEAD e Marcia Tiburi












Fui a um café filosófico com Marcia Tiburi. Que surpresa boa ver uma mulher bonita, inteligente, descolada e filósofa!! isso, para os iconoclastas é o máximo!! A associação de mulheres bonitas e muito conteúdo intelectual parece surreal para muitos.... gostei muito, não quis participar com questões, porque ela estava sendo muito didática e respeitosa com o público e talvez eu nào conseguiria me fazer tão clara.... apesar do incômodo que isso me causa, resisti bravamente!!!

Dentre as temáticas abordadas estava, como era de es esperar, uma análise existencialista do homem contemporâneo.... me incomodou a análise pouco dialética que ela fez ao insistir na vitimizaçao social e no papel que as tecnologias representam hoje no esvaziamento dos indivíduos.... não gosto dessa unilateralidade......mas gostei do que foi dito, para os iniciados ali, certamente ela deixou seu recado ... além claro, de ter conquistado meu respeito e admiração...... falou dos frankfurtianos, de Debord, e isso foi bem legal ..... são boas referências de leitura.... Dentre os momentos de reflexão surge Radiohead, com Fake Plastic Trees... mais uma escolha feliz.....
vale a pena ouvir aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=CwEeGeLn1E4&feature=related

e pensar sobre:

Um regador verde de plástico
Para uma falsa planta chinesa de borrachana
Terra artificial de plástico
Que ela comprou de um homem de borracha em uma cidade cheia de planos de borracha
Para se livrar de si mesma

Isto a desgasta, isto a desgasta
Isto a desgasta, isto a desgasta

Ela mora com um homem quebrado(sem dinheiro)um homem de poliestireno rachado que só se esfarela e queima
Ele costumava fazer cirurgias em garotas de oitenta anos mas a gravidade sempre vence

E isto o desgasta, isto o desgasta
Isto o desgasta, isto o desgasta

Ela parece ser real
Ela tem sabor de real
Meu amor artificial de plástico
Mas não posso evitar o sentimento
Eu poderia explodir através do teto se eu simplesmente me virar e correr

E Isto me desgasta, isto me desgasta
Isto me desgasta, isto me desgasta
Se eu pudesse ser quem você queria
Se eu pudesse ser quem você queriao tempo todo, o tempo todo


Angela R.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

MODA E TRIBO URBANA: me perguntaram, respondi...


Recebi recentemente o contato da Patrícia, aluna do curso de Moda da Universidade São Judas Tadeu de são Paulo. Ela me "achou" por aqui, e me enviou algumas questões referentes a tribo urbana e moda. As questões foram elaboradas da forma como se apresentam abaixo. Respondi com prazer, pois a palavra sempre me revigora!
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1 O que a moda representa na nossa sociedade?

Entendo a moda contemporânea como um fenômeno que lança luz sobre o espírito do nosso tempo, marcado por contradições de todas as ordens, das quais destaco:
a) Globalização e glocalização;
b) Individualismo exacerbado e ascensão de comunidades (tribos urbanas, comunidades virtuais);
c) Coisificação do corpo e tomada de consciência da corporeidade;
d) Estereótipos e padronização da aparência e democratização da moda.
Explico. Desde as décadas de 1980 e 1990 muito tem se falado sobre a globalização da cultura, da economia e da sociedade, assegurada sobretudo por políticas de cunho neoliberal. A globalização desconhece fronteiras e particularismos, mas com ela surge também, como que num processo dialético, a glocalização que corresponde à valorização dos regionalismos e das particularidades culturais de países e regiões.
Quanto ao individualismo, podemos dizer que há muito, perdeu-se a noção do todo. O individualismo em todas as suas manifestações tem repercutido no predomínio do egoísmo que compromete o bem estar social. Mas, como se cansados da solidão, vemos nascerem a cada dia tribos urbanas, comunidades de interesse, comunidades virtuais, que de alguma forma resgatam a troca (ideológica, estética, psicológica, existencial).
No que se refere ao corpo, sabemos também que desde a década de 80 o corpo “perde”seu status biológico assumindo a posição de objeto, passível de ser modificado, transformado, vendido, qualificado, desqualificado, amado e odiado. Se por um lado essa modificação teve um aspecto mercadológico indiscutível, podemos dizer que concomitantemente a isso tem ocorrido a posse do mesmo corpo por sujeitos livres para aderirem à arte do corpo (tatuagem, piercing) e às modificações corporais (body modification) por exemplo, como manifestações de sua corporeidade, ou seja de um corpo que pensa, questiona, reflete, reivindica, que tem autonomia.
Finalmente, no que tange à padronização e democracia da moda, penso que hoje temos o privilégio de sermos iguais se assim o quisermos, e de sermos diferentes sem sermos excluídos. E isso é fantástico. Do ponto de vista prático, a moda hoje passa por um dos seus momentos mais interessantes por assumir a diversidade, de formas, cores, texturas, conceitos e, como não poderia ser diferente, de consumidores de moda. O mimetismo parece não prevalecer e a insistência na vitimização do individuo no que diz respeito à ditadura da moda corresponde a um arcaísmo pouco justificável.

2 Qual o motivo das pessoas se identificarem e buscar um estilo próprio dentro das tribos? A senhora acha que seja uma questão de sobrevivência, segurança?

O ser humano tem um instinto gregário, não se satisfaz com a solidão. A alteridade é imprescindível para sua humanização. É através do outro que o individuo se constitui. Nesse sentido, penso que as tribos urbanas são apenas indivíduos agregados a partir de uma teatralidade que envolve gestos, indumentária, linguagem, produções simbólicas. Inserido em uma tribo, o indivíduo se fortalece e se sente inserido no todo. Vejo as tribos urbanas como algo natural e que responde, à sua maneira, ao individualismo exacerbado que empobrece e enfraquece ainda mais um ser que nunca foi forte ao ponto de prescindir do outro.

3 Quais os aspectos positivos e negativos de seguir um determinado estilo; punk, hippie, clubbers...

Penso que se o indivíduo participa de uma tribo urbana por convicção, por ideologia, e adere com paixão à sua configuração estética, ética, política e cultural, não há nenhum prejuízo no processo de solidificação de sua identidade. Contudo, se o que motiva a participação do individuo em uma tribo é apenas fragilidade estética, ética, política e cultural sua aderência ao grupo não vai assegurar o que ele precisa. Talvez isso explique a existência de tribos urbanas violentas, neonazistas, preconceituosas.
Os hippies e os punks na sua origem tiveram um papel subversivo, ideológico e cultural muito importante. Cada um a seu tempo e à sua maneira contestaram a hipocrisia e a marginalização sócio-econômica com originalidade e sobretudo com bases reflexivas bastante claras. Os clubers por sua vez, deram leveza e cor principalmente aos anos 80, década marcada pela apatia ideológica. Aqui, indiscutivelmente, temos uma tribo marcada pela teatralidade a que me referi anteriormente. E penso que a teatralidade, a ludicidade e a fantasia de maneira geral são relevantes na concepção de formas alternativas de se inserir no todo.

4 No seu ponto de vista quais as tendências dessas tribos para os próximos anos?
Como o mercado de moda pensa sobre esses estilos?

Não tenho a menor idéia se as tribos urbanas vão se multiplicar ou se diluir com o tempo. Mas, penso que o jovem pós-moderno está imerso em um contexto propício para diversas manifestações comportamentais. Da indefinição de valores éticos e da fugacidade da era digital podem surgir tribos urbanas sem roteiros ou novos enredos com elencos que nos surpreendam a todos. O mercado da moda só tem a ganhar com a plasticidade das tribos urbanas. Não são elas que buscam referências na passarela; são elas certamente fontes de ineditismos revigorantes para os criadores de moda. Quanto a isso, não tenho dúvidas.

terça-feira, 25 de maio de 2010

RECEITA: arroz com frango...delicioso...


Sempre que estou com fome e não muito animada para cozinhar, faço essa receita. Não é risoto de frango, mas é um arroz com frango delicioso. Aprendi com minha mãe e fiz algumas adaptações. Vale a pena:

primeiro: frito em pouquíssimo óleo alguns pedaços de frango (à passarinho) sem tempero algum, quando começar a dourar coloco muito alho em pasta, muita cebola, curry, muita páprica e frito até o tempero começar a "grudar"no fundo da panela.

segundo: retiro quase todo o óleo e coloco o arroz e frito um pouco mais...

terceiro: coloco água aos poucos, como fazemos em risotos.... o tempero que "grudou"no fundo da panela se solta e dá um sabor delicioso ao prato.... quando estiver quase pronto acrescente cheiro verde. Eu adoro o sabor do coentro!!!
Para acompanhar uma salada. Optei por cenoura crua ralada, nozes, tomate e rúcula!!
Uma delicia!!!!!!!!!!
p.s. claro que se o frango for temperado com antecedência fica melhor ainda.
Angela R.



segunda-feira, 10 de maio de 2010

CINEMA: finalmente Alice...










Penso que até os menos ligados à sétima arte estavam na expectativa, afinal Alice no Pais das Maravilhas, Tim Burton, Jony Deep e tecnologia 3 d parecem ingredientes no mínimo interessantes. Me sugeriam muitas surpresas e uma adaptação com ares de pós-modernidade ao clássico de Lewwis Carrol.
Mas, nada surpreende, esperava bem mais de uma Alice já crescida... O filme é previsível, mal articulado, nao é inteligente, não é instigante, e não saí do cinema querendo ler Maquiavel, Nietzsche, Sartre, como sugeriram algumas críticas. Aliás, penso que atribuir ao filme uma conotaçao instigante no que se refere a questões psicológicas, filosóficas e políticas é no mínimo uma heresia. Dizer que o crescimento individual em todos os aspectos que lhe são inerentes, carrega consigo angústia, medo, liberdade, escolhas, "bla bla bla"..... e a partir disso referenciar pensadores importantes da filosofia ocidental me parece uma ginática intelectual desnecessária a que obviamente me recuso.
Até o que é bom, no filme é ruim!
Como muitos, achei o figurino maravilhoso, mas digo sem nenhuma ressalva, que ele se "descola" completamente do filme....é tão desconectado que rouba a cena da protagonista que, em várias cenas, se resume a mero suporte para as criações de Collen Atwood ...
Quanto a Jonny Deep, mesmo com uma maquiagem linda e uma interpretaçao interessante, ficou sem cor ao contracenar com a Rainha vermelha interpretada lindamente por Helena B. Carter (a senhora Burton, diga-se de passagem).
Enfim, Alice é apenas um filme para ser visto no domingo a tarde. Reservar um horário nobre pode aumentar a sensação de descontentamento! (Surreal mesmo foi o sucesso do marketing que alimentou nossas expectativas!!)

domingo, 9 de maio de 2010

COMPORTAMENTO: gostava disso já aos quinze....

Há muito nao lia poesia, ao me deparar com Vinicius para a post. anterior, me lembrei de AUGUSTO DOS ANJOS, meu preferido já na adolescencia. Agora, mulher crescida, nao deixei de me surpreender novamente com o poeta e também, vale confessar, com a minha precocidade!!!!!!!! Olha a densidade dissso!


VERSOS INTIMOS

Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo, Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja esta mão vil que te afaga,
Escarra nesta boca que te beija!

Augusto dos Anjos

COMPORTAMENTO: ...coisas de filhos

Minha Mãe

Vinicius de Moraes


Minha mãe, minha mãe, eu tenho medo
Tenho medo da vida, minha mãe.
Canta a doce cantiga que cantavas
Quando eu corria doido ao teu regaço
Com medo dos fantasmas do telhado.
Nina o meu sono cheio de inquietude
Batendo de levinho no meu braço
Que estou com muito medo, minha mãe.
Repousa a luz amiga dos teus olhos
Nos meus olhos sem luz e sem repouso
Dize à dor que me espera eternamente
Para ir embora.
Expulsa a angústia imensa
Do meu ser que não quer e que não pode
Dá-me um beijo na fonte dolorida
Que ela arde de febre, minha mãe.


Aninha-me em teu colo como outrora
Dize-me bem baixo assim: — Filho, não temas
Dorme em sossego, que tua mãe não dorme.
Dorme.
Os que de há muito te esperavam
Cansados já se foram para longe.
Perto de ti está tua mãezinha
Teu irmão. que o estudo adormeceu
Tuas irmãs pisando de levinho
Para não despertar o sono teu.
Dorme, meu filho, dorme no meu peito
Sonha a felicidade. Velo eu

Minha mãe, minha mãe, eu tenho medo
Me apavora a renúncia. Dize que eu fique
Afugenta este espaço que me prende
Afugenta o infinito que me
eu estou com muito medo, minha mãe.